obras de arte que não existem
um quadro sem moldura jogado no lixo em São Paulo cuja ilustração é uma mulher branca e narigudinha dormindo sem tirar o delineado, deixando algumas marcas borradas no travesseiro. a moldura sendo encontrada em Rotterdam, não no lixo mas em uma galeria amadora, sem nenhum quadro dentro. ela tem a forma de nuvens, e também tem marcas de maquiagem.
recriação do MASP em que todos os quadros são espelhos mas as descrições e nome das obras se mantém como são, em ordem cronológica.
instalação de uma parede branca, numa sala super iluminada, com uma lanterna apontando para a parede. a lanterna projeta a resposta para qualquer pergunta que o observador tiver, mas ninguém consegue ver devido à iluminação perene da sala. as pessoas tentam se esconder no museu até as luzes serem apagadas após o horário comercial, mas elas nunca são. o museu inteiro é composto de geradores de emergência escondidos.
história em quadrinhos contando as aventuras de um super herói sem nome que não desperta a raiva de nenhum super vilão - ele não é anônimo, mas não desperta histrionismo pela falta identitária.
tinta feita com o siso que tirei há oito anos e coloquei na água sanitária por tempo demais a ponto dele se desintegrar. a água sanitária acumulada acabaria apagando outras tintas, borrando, consumindo a arte alheia.
sonho em que te fosse revelado o nome de deus em segredo com o asterisco de que a cada pronúncia ele muda e é revelado para outra pessoa.
um aparelho de ar condicionado que suspira ao ser desligado.
um cul-de-sac cujas casas tocam músicas que você só se lembra de maneira efêmera, como se tivesse escutado num comercial quando criança. ao se aproximar de uma das janelas, a temperatura aumenta de maneira que seja impossível chegar perto o bastante para identificar o som.